águas
“Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso se não mais, pensado através dos meus olhos.” (J.Joyce, Ulisses (1922), ed. bras.: trad. De Antônio Houaiss, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966, PP.41-2.)
Através da passagem joyciana citada e diante do acompanhamento do processo de produção artística de Edna Canoso, Karina Valderrama e Marinalva Rosa, tensões bastante específicas foram notadas em suas propostas. Cada artista aborda a pintura e evidencia seu processo constitutivo de maneira bastante peculiar, buscando alternativas e atalhos em suas operações. Ações diretas e indiretas, camufladas. Algo de precário e sofisticado.
Diante das obras, em um primeiro olhar não damos conta do que vemos, há certa ligeireza, uma imediatez e pulsação nas dinâmicas que as imagens propõem. Por outro, há uma relação tátil presenciada pelo olhar, um estado do que se põe a nossa frente, e em outra instância, aquele que se adentra na superfície, procurando, com um muito a descobrir.
As imagens não são neutras e nem o olhar que projetamos sobre elas, assim, situando águas dentro da linguagem, águas se apresenta como alegoria e o que a indica no visível, naquilo que é familiar e o que nos pôe a nossa frente, em um jogo teórico e ótico. É nestes jogos de semelhanças e diferenças que se postula o que possa significá-la como conceito nestas abordagens, não só pela sua utilização técnica e proposta de escritura pessoal, mas sim em seus múltiplos sentidos.
O termo é usado no plural e no diminutivo, águas, por não ser específica ou mesmo uma que seja determinante. E sim, muitas águas, em suas inúmeras possibilidades e natureza substantiva, como as águas que passam, águas nas águas.
“O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio duas vezes, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje”. (Heráclito)
Curadoria
Rubens Pontes